Antes do Instagram, era no Facebook que as pessoas postavam sua vida. A plataforma parecia um diário, onde as pessoas compartilhavam com seus “amigos” fotos de coisas cotidianas.
O despertar, o café da manhã, a roupa escolhida para ir ao trabalho, o almoço, o jantar, e qualquer outro momento corriqueiro era devidamente registrado e postado.
Férias, viagens e fim de semana rendiam muitas fotos para irem sendo diluídas em postagens futuras.
Naturalmente, as postagens eram feitas de maneira a parecer que a vida dos donos dos perfis era bem melhor, bem mais glamourosa.
Quando um desavisado acessava seu perfil no Facebook, se deparava com “amigos” que almoçavam em restaurantes caros, viajavam para lugares legais, frequentavam points da moda.
Até as relações pessoais eram melhores ali, na rede social. Os casais eram tão mais apaixonados, com declarações de amor e gratidão pelo par perfeito. Pais e filhos sempre orgulhosos uns dos outros.
Quando uma pessoa mais impressionável entrava em seu perfil, acabava tendo a justificável sensação de que todo mundo tinha uma vida melhor do que a sua, que tinha mais dinheiro, mais amigos, mais diversão, mais tudo.
Dependendo do estado de espírito do dono do perfil, podia-se ir da inveja do mundo perfeito de seus amigos virtuais, até a tristeza e depressão, por ter uma vida tão pouco interessante, tão pouco digna de postagens.
Foi justamente esse hábito de compartilhar fotos o tempo inteiro que inspirou a criação do Instagram, que já nasceu com esse propósito, de ser uma plataforma de auto exibição.
No Instagram, a disposição de fotos e os aplicativos existentes para melhorar o feed (a “página” inicial) facilitam tanto para quem gosta de se exibir, quanto para quem gosta mesmo é de olhar como vivem os outros.
Naturalmente, tanto no Facebook quanto no Instagram (ambas do mesmo dono e que permite o compartilhamento de postagens feitas na segunda para a primeira) viraram negócio para muitos com o poder de influenciar hábito de compra e consumo por meio de suas “rotinas”.
Ainda em 2012, quando o Facebook ocupava a preferência dos exibidinhos das redes sociais, uma pesquisa feita em vários países com usuários da plataforma concluiu que ela deixava as pessoas mais infelizes.
Que bastava alguns minutos diários sapeando no Facebook para garantir certa dose de tristeza durante o resto do dia.
O motivo da infelicidade era acreditar que a vida dos outros era melhor, que os outros viviam uma grande aventura todos os dias, como se os outros fossem cidadãos de uma classe superior.
Demorou muito até perceberem (alguns ainda não chegaram a esse nível de consciência) que expectativa e realidade são coisas que andam paralelamente nas redes sociais, se olham de vez em quando, mas nunca se tocam.
A expectativa alta, contrastante com a realidade desglamourizada, virou motivo para postagens, piadas, memes.
Então, é bom que se saiba: todo mundo é meio fake nas redes sociais, lugar onde a palavra autenticidade é exigida para garantir o sucesso, mas ganha novo significado (falaremos disso na próxima postagem).
Se na vida real expectativa é uma coisa que quase nunca se consegue tangir, nas redes sociais serve apenas como um ideal, que pode até ser perseguido, mas jamais alcançado.