Quando for tempo de ir,
Vai.
Mas, não esquece
De tudo o que fizeste.
Se não fizeste,
Faz.
Faz, ainda, porque é bom fazer.
Não por “prestação de contas” aos outros.
Ora, essas “contas” aí são coisas que não valem um centavo sequer.
Se for fazer bem à ti, faz.
Senão, não faz.
Simples, não?
Lembra de todo bem que fizeste.
Também do mau
Que semeaste nalgum coração por aí.
Recorda-te de teus amores,
Desamores,
De tuas alegrias,
Venturas e desventuras.
Pois, todas elas costuraram o tecido que és,
E que agora fende.
Quando for tempo de ir,
Vai.
E te despeças havendo tempo.
Despedida é honra que prestamos a nós mesmos,
Não aos outros,
Embora estes sempre pensem o contrário.
É nosso adieu!
Nosso remendo firme e frio.
Despede-te com todo amor e carinho,
Gratidão e amorosidade.
Sem maldades.
Pois, de maldade tua alma já está cheia, não!?
Larga disso!
Não importa os fatos…
Distribui perdões,
Beijos e abraços.
Manda avisar ao inimigo
Que estás indo bem
Sem peso dele.
E que prometes que não vais puxar-lhes os pés a noite,
Ou aparecer debaixo da cama como o pior dos desafetos.
Apenas manda dizer:
“Amigo,
Quem nesta vida não fez por idiotice qualquer
Inimigos para a vida inteira?
Vais viver e me esquece…
Adieu!”
Quando for tempo de ir,
Vai.
Fazes o que tens de fazer.
Arruma o que puderes.
Resolve o que dá.
Com graça,
Com leveza,
Sem estardalhaços,
Por favor.
Sem choramingo.
Sejas delicado ao entrar no silêncio.
Mansinho como deve ser.
Levando todo amor e dor da humanidade que habitaste.
Estas tuas irmãs pela vida inteira.
E, pelo teu próprio bem, não peças desculpas pelo que não conseguiu viver.
Não há como fazer isso.
A vida é sempre para além de nós mesmos.
Estas culpas não são coisas de se carregar para o silêncio.
Para o silêncio se carrega é paz,
Que é o mais leve de todos os fardos.
Quando for tempo de ir,
Vai.
E se der, põe um sorriso nesta cara azeda.
E transita.
Mesmo com frio na barriga.
Dalmo Santiago Jr. é Teólogo, Filósofo, Bacharel em Direito, Poeta e Cronista.
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