Estava num café
Aquele homem velho,
Cansado,
Cujas costas largas e vergadas
Revelavam um ar de desistência de tudo.
Seu olhar caído dava pena.
Seus cabelos abundantes de fios grisalhos
Pareciam falar,
Ainda sem palavras,
Na totalidade estranha da conjuntura daquele corpo nada esguio,
Algo triste de se ouvir que se pronunciava naquelas suas reações.
E eu? De minha mesa chorei,
Enxugando rapidamente as únicas lágrimas caídas
Uma de cada olho,
Que se estendiam a encharcar-me o queixo
E a toalha de mesa,
Nada mais que brevemente…
Digo da lágrima o que não posso dizer da dor
Do compadecimento que tive, e me parece ser agora eterno
Por aquele homem.
Seu charuto no cinzeiro fazia flutuar uma fumaça branca
Vindo a penetrar-lhe e defumar-lhe os grisalhos fios.
Vez ou outra embaçava sua face como uma neblina,
Impedindo que algumas feições pudessem ser capitadas.
Estava reclinado sobre a mesa
Feito a Torre de Pisa.
Rabiscava alguma coisa nalgum pedaço de papel.
Dava para observar de longe um emaranhado de palavras,
Aparentemente desconexas,
Próprias de um espírito perturbado que sofre dores profundas.
Passava lentamente o dedo indicador
Na borda esmaltada
De uma xícara de café,
Que aquelas alturas
Já tinha esfriado.
Ainda assim o bebia
Como o mais delicioso dos goles,
Pois sofria a ponto de concentrar-se
Mais na escrita do que na degustação.
Levantou a mão e pediu a conta.
Pagou-a.
Tomou o último gole.
Pegou seu casaco e foi indo na direção da porta de saída,
Cuja pelo vitral em seu centro dava para ver na avenida principal
Os transeuntes,
Cada um pensando no que é seu.
Silenciosamente colheu seu chapéu do cabideiro.
Vi que deu uma respirada profunda
Antes de pôr o primeiro dos pés na calçada enevoada.
Saiu.
Saiu como quem fosse corajosamente concluir a vida.
Despediu-se do lugar infestado de gente
Sem ser notado
A não ser por mim,
Que me despedi também daquela agonia encarnada
Absorto por tudo aquilo.
Dalmo Santiago Jr. é Teólogo, Filósofo, Bacharel em Direito, Poeta e Cronista.
Fale com o autor: [email protected]